sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Português padrão e não padrão

Durante uma visita de férias a casa de sua tia Irene, Vera e suas duas amigas, Silvia e Emília, conhecem Eulália. Eulália, uma senhora simples que trabalha para tia Irene, foi alfabetizada já adulta e se expressa verbalmente sem observar estritamente as regras da gramática normativa. Esse fato causa estranhamento às três moças vindas da cidade de São Paulo e serve de ponto de partida para as lições que as garotas receberão de Irene, lingüista aposentada. Ao confrontar a reação zombeteira das moças ante os hábitos lingüísticos de Eulália, Irene traz à discussão questões como preconceito lingüístico e ideologia.Marcos Bagno, mediante esta novela de cunho didático apresenta de forma clara e acessível alguns conceitos da sociolingüística, tais como a noção de variação e mudançalingüística e fenômenos como redução de ditongos, processo de rotacização e arcaísmos no português do Brasil. O livro revela-se como ferramenta importante para uma reflexão mais ampla sofre o papel social da lingiagem verbal e a relação entre língua e poder. Indicado pra estudantes iniciantes de Letras e todos aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre esse ramo da lingüística que se ocupa da linguagem que efetivamente é utilizada pelos membros dos diversos estratos sociais.







A Teresa, da turma 64, escolheu outra variedade coloquial: a linguagem típica do interior. Ficou muito bom!- E aí, pião, que ocê tava fazenu?- Ah, Rordigu, eu tava montando naqueli cavalo, sô!- Aqueli lá



que nóis tava falanu otro dia?- É, aqueli mesmo, o Pertinho. Corri mai rápidu cuma raposa, sô!- Ah... um dia vô vê essa belezura!- Então, Renato, o que você tem feito?- Eu tenho montado no meu cavalo.- Aquele sobre o qual nós estávamos falando outro dia?- É sim, o Pretinho. Ele corre muito!- Um dia quero conhecer esse cavalo.



NORMA PADRÃO-Olá, chefe, você me chamou?-Chamei, sim, Edu. Eu tenho um trabalho para você fazer.-Qual seria o trabalho, chefe?-Eu vou pedir para você refazer o trabalho do Almir.-Chefe, sem querer ofender, mas o trabalho dele está ótimo!-Eu sei, é só para você fazer alguma tarefa...Varidade INFORMAL-E aí, maluco, pediu pra eu colá aqui?-Pedi sim, truta, tenho um trampo aí pro meu chegado.-Que trampo seria, meu querido?-Eu vou falar pra você fazer de novo o trabalho do truta ali.-Mano, você me chamô aqui só pra fazê um trabalho que já tá feito?-Eu sei, é só para o meu querido trabalhar...


Língua (Usos culto, coloquial e popular - gíria)

A língua é um código de que se serve o homem para elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basicamente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas funcionais:
1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta ou língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por base a norma culta, forma lingüística utilizada pelo segmento mais culto e influente de uma sociedade. Constitui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colaborando na educação, e não justamente o contrário;
2) a língua funcional de modalidade popular; língua popular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.
Norma culta
A norma culta, forma lingüística que todo povo civilizado possui, é a que assegura a unidade da língua nacional. E justamente em nome dessa unidade, tão importante do ponto de vista político-cultural, que é ensinada nas escolas e difundida nas gramáticas. Sendo mais espontânea e criativa, a língua popular se afigura mais expressiva e dinâmica. Temos, assim, à guisa de exempliflcação:
Estou preocupado. (norma culta) Tô preocupado. (língua popular) Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)
Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a espontaneidade, expressividade e enorme criatividade, para viver; urge conhecer a língua culta para conviver. Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das normas da língua culta.
O conceito de erro em língua
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos de ortografia. O que normalmente se comete são transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele falar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride a norma culta. Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa praia, vestido de fraque e cartola. Releva considerar, assim, o momento do discurso, que pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre amigos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas perfeitamente normais construções do tipo:
Eu não vi ela hoje. Ninguém deixou ele falar. Deixe eu ver isso! Eu te amo, sim, mas não abuse! Não assisti o filme nem vou assisti-lo. Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.

Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos econômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada.
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação (melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e a evoluções.










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